- Sejam bem vindos!
Um breve sorriso se mostrava em meus lábios. Eu já esperava por aquela resposta. Não acreditava na hipótese de nos mandarem embora.
Mas o que realmente me surpreendia era o que vinha exatamente depois:
- Mas é claro que nem tudo são um mar de rosas... quisera eu que fosse. Apesar de aceitos, vocês terão que provar o valor de vocês. Como bem sabem, estamos enfrentando sérios problemas na cidade, e crises trazem oportunidades. Precisamos de algozes e harpias. A base da Camarilla, sem eles seríamos frágil e com certeza não estaríamos aqui por todo esse tempo...
A frase "crises trazem oportunidades" ecoava na minha mente com mais intensidade que o restante. Eu sabia muito bem disso. Mas o melhor de tudo é que o próprio Jaque Beaumont reconhecia essa janela na seita. Havia oportunidades para quem se mostrasse útil naquele período conturbado. Então eu logo esperava ser nomeada Hárpia, afinal minhas habilidades sociais eram de elevada estima, inclusive fora esses talentos que fizera meu senhor me escolher para transmitir seu sangue. Eu era encarregada de fazer às vezes do clã no meio diplomático. Eu tinha um talento de comunicação, carisma e manipulação de grande proveito para a Pirâmide. Novamente um sorriso ia querendo se formar nos meus lábios enquanto eu aguardava ser alçada hárpia de Paris.
- Cumprimentem a Srta Veneuve, ela pertence ao clã nosferatu e é uma exímia investigadora. Gravem esse nome e esse rosto, pois aqui está a melhor fonte de informações que Paris pode contar.
Eu acenava afirmativamente com a cabeça para a Srta Veneuve. Com certeza eu gravaria aquele nome e aquele rosto... com certeza!
De acordo com a análise breve de Ana, temos indicações para os cargos, de acordo com suas habilidades e competências... Alex e Edward, serão melhor aproveitados servindo a nossa sociedade, o que inclui vocês próprios, pois somos um só, mas serão melhores aproveitados como harpias. Nos dariam tal honra?
Eu não era estúpida o suficiente para saber que se meu nome não estava entre as hárpias, é porque estaria nos algozes.
"Mas como?!"
Decepcionada eu já sabia qual seria a minha posição. Mas com dois séculos de idade eu já tinha experiência suficiente para manter o controle e não deixar que minha face transparecesse meus pensamentos e sentimentos. Mantinha calma e friamente a mesma expressão que eu já havia vindo transmitindo, tanto agora quanto quando meu nome seria anunciado como algoz.
"Mas que investigação é essa? Que humilhante essa posição de algoz! Eu tenho status dentro da Seita e é isso que a corte de Paris me confere? Com base em investigações?! Pff... Bem, talvez o meu passado no combate ao Sabá tenha falado mais alto, no fim das contas... Srta Veneuve realmente fez o dever de casa. Passei tanto tempo longe da linha de frente que às vezes até eu mesma me esqueço que já estive lá..."
Então finalmente o príncipe se dirige a mim e ao outro infeliz que ocuparia comigo o cargo de algoz...
- Bom... Vocês nos ajudariam ocupando o cargo de algozes? Por mais que isso soe estranho, essa foi a análise realizada por Veneuve, e ela nunca erra. E aí, a Camarilla de Paris poderia contar com vocês nesses tempos difíceis?
Eu poderia contra-argumentar que minhas habilidades sociais eram maiores que minhas habilidades físicas. Ou talvez questionar a frase "...e ela nunca erra" dizendo que eu temia que ela havia errado pela primeira vez. Mas fazendo isso eu questionaria o trabalho da nosferatu e eu estava chegando agora. Talvez ela quisesse mesmo ferrar comigo, mas se não fosse o caso, eu não poderia ser precoce em criar inimigos.
"O próprio Beaumont estranhou o fato da minha nomeação para algoz. Certamente ele já está protestando por mim, então não é necessário que eu faça isso..."
De fato eu já havia ajudado a liderar as defesas da Camarilla contra o Sabá em Nova Iorque... Talvez eu só não estava disposta a ir a campo novamente, mas agora teria que fazê-lo...
- Há um antigo ditado chinês que diz que as dificuldades vem, não só para nos testar mas também para nos deixar mais fortes. O carvalho não é apenas testado, mas enrijecido pelas tempestades. Não importa a nossa posição, se algoz, hárpia, príncipe... ou até cidadão. O importante é contribuirmos para que a Camarilla de Paris saia mais forte ao findar destes tempos difíceis que estamos passando. Respondia às palavras do príncipe. No fim das contas, apesar dos meus protestos mentais, eu não me lamentava. Muito pelo contrário. Começava a enxergar as oportunidades que esse cargo poderia me trazer. Eu era ambiciosa e competidora. Não aceitava perder. Eu jogava para ganhar. Poderiam até me colocar como algoz e zombarem de mim nas sombras, mas se arrependeriam amargamente no futuro, pois eu transformaria a posição de algoz em algo muito maior, porque eu era assim...
Por fim eu concluía que o cargo de algoz não seria de todo ruim. Não sei como funcionava a política de Paris, mas talvez houvesse autorização para destruição imediata de invasores e caitiffs. Isso viria a calhar.
"Sem contar que terei acesso a alguns aparelhatos, como certamente polícia e contatos com o Xerife. No fim das contas algoz não é tão ruim assim. Talvez eu esteja mesmo enferrujada, precisando de um novo fôlego em minhas disciplinas de combate..."
Ao final o Lassombra revoltado vinha falar comigo. Ele me cumprimentava beijando minha mão e enquanto eu naturalmente correspondia:
_ minha senhora
-D'la Fere, não é mesmo? _ já nós conhecemos, talvez não dê uma forma direta, mas confesso que nunca avistara uma mulher tão linda! Desculpe minha petulância, mas seria um sacrilégio presenciar isso sem ao menos dizer.
- Obrigada pela gentileza, senhor D'la Fere. _ parece que estamos no mesmo barco, por enquanto, não creio que uma mulher como você se satisfazeria com um cargo tão abaixo de sua imagem, e se de alguma forma eu puder lhe ajudar, não exite em me procurar!
- Sim, ao que parece somos agora pares de postos na Camarilla de Paris. Eu sorria gentilmente para D'la Fere quando ele dizia que o cargo estava abaixo de minha imagem. Acho que de fato ele estava certo.
- Agradeço pela disposição, espero poder retribuir da mesma forma. _ A propósito suas mãos são delicadas demais para suja-las com qualquer coisa.
- Dizem que os Lassombra são membros de alto refino dentro do Sabá. Vejo que os rumores são verdadeiros. Fico feliz por estarmos do mesmo lado da moeda.