Naquele horário a Penitenciária estava fechada, mas apenas para os mortais.
No caminho Júlio sentiu necessidade de questionar os colegas.
Júlio da Cruz
| – O que vocês sabem sobre o Partido Único? |
Eliana Aleixo
| – É um grupo de vampiros que fazia parte da Camarilla, mas debandou para os Anarquistas, não é? |
Júlio da Cruz
| – De certo modo é isso. Nos anos setenta, quando fizerem a Penitenciária, um círculo foi rápido em tomar o controle do lugar. De uma noite para a outra eles dominaram a direção, guardas e presos, lotaram o lugar de carniçais laçados. Foi uma ação ousada que em situações normais nunca teria sido tolerado, mas na época Magdala era dominada pelo Sabá e estávamos retidos no Extremo Oriente, com os Anarquistas no Norte-Noroeste. A Penitenciária estava bem no meio do caminho entre a região central da cidade e o território Anarquista, então foi muito bem visto e eles receberam bastante apoio dos dois grupos. Ao longo dos anos o lugar se tornou uma fortaleza e a organização expandiu – eles lideravam os presidiários à noite em ataques às bases da Espada de Caim, normalmente disfarçados como "ataques terroristas" de algum grupo de resistência à Ditadura.
– Quando a Irmã Dominique assumiu o Principado, ela tentou "moralizar" o pessoal e o Partido Único se sentiu restringido – sua aliança sempre foi nominal e frágil conosco, de qualquer modo. Foi um pequeno empurrão e eles debandaram para os Anarquistas. Parece pouco, eles são só três Membros, mas foi uma grande perda para nós. Agora o Partido Único protege o território Anarquista.
– O Partido Único é assim um agrupamento de mortais ignorantes, com um comando de carniçais entre criminosos e agentes do sistema penitenciário, tendo por cima Mikhail "Russo" Pavlenko, Túlio "Lepra" e o "38". Um Brujah, um Nosferatu e um Malkaviano. Mikhail é o mais tranquilo de lidar e cuida das "relações públicas", por assim dizer. É russo mesmo, teve uma treta no Conselho Brujah lá na União Soviética e acabou vindo parar aqui. O Lepra lida com tráfico e informações. E o 38... bom, o 38 é o matador.
– Espero que o 38 não esteja lá. Lepra é de boa e Mikhail é gente fina demais, nem parece a imagem que a gente tem dos soviéticos, frios e tal. Se o 38 estiver lá, aconteça o que acontecer não encarem ele e não fiquem de conversinha. Cumprimentem e fiquem na boa. Acho que se não fosse pelo Mikhail o 38 já teria sofrido uma caçada de sangue... |
A Penitenciária ficava numa área de mata fechada, uma região erma, embora estivesse no meio do município – o que mostrava como a região Norte-Noroeste era isolada do resto da cidade. Júlio parou na entrada e foi recebido por guardas armados com fuzis que encaravam os ocupantes do veículo com desconfiança.
Júlio da Cruz
| – Vim falar com os camaradas. Fala que é o Júlio da Universidade. |
Um dos guardas vai até a guarita e conversa com alguém pelo interfone. Em seguida libera a entrada: a cancela sobe e as duas grossas folhas de aço do portão se abrem para permitir a passagem. Júlio guia o carro através do estacionamento e para em uma das vagas abertas.
Ele conduz os outros até uma entrada lateral, pequena e discreta. Ali encontram outro guarda que autoriza a entrada. Seguem por um corredor, descem por escadas. Chegam até um corredor largo, com câmeras e um longo espelho em uma parede. Júlio faz um ligeiro aceno com a cabeça para o vidro enquanto vai à frente dos demais.
Uma porta se abre e o visual muda completamente. Uma sala de escritório com veludo vermelho nas paredes e algumas bandeiras em mastros ao longo de uma das paredes: uma era de Magdala, outra de Minas Gerais. Então vinha a bandeira do Brasil e, por fim, a indefectível flâmula vermelha com foice e martelo amarelo e estrela: a bandeira da União Soviética.
Uma secretária vestida com roupas antiquadas de secretária e um penteado de acordo que parecia ter saído de 1950 os olhou com uma expressão neutra. Era loira, de olhos azuis, alta e muito bonita. Pegou um telefone que também tinha ares antigos e falou em um dialeto que não entendiam, mas podia ser russo. Então falou com eles em um forte sotaque, abrindo a porta para que seguissem.
A sala adiante era um escritório grande e elegante. Atrás de uma grande mesa com alguns telefones de disco vermelhos e pretos havia uma enorme foto de Lênin. Bandeiras soviéticas (não só a da União, mas outras menos conhecidas) estavam penduradas nas paredes. Também havia quadros com pinturas e fotos retratando trabalhadores no campo, nas fábricas, soldados treinando ou posando. A maioria era em preto e branco.
Um rapaz de óculos usando terno e gravata ergueu-se de trás da mesa com um sorriso.
Mikhail "Russo" Pavlenko
| – Júlio! Seja bem-vindo, tovarishch! |
Falava com um sotaque bem forte. Sentado em um sofá estava outro que cumprimentou com um gesto mais contido. Pela face, devia ser o "Lepra".
Túlio "Lepra"
| – E aí, Júlio? |
O Brujah cumprimentou o Nosferatu e introduziu os outros três. Mikhail e Lepra cumprimentaram os recém-chegados, mas com mais contenção.
Júlio da Cruz
| – Então, estou acompanhando o pessoal aqui. Estamos fazendo uma investigação. Vocês podem falar com eles. |
Ele indica os demais, incentivando-os a falarem com os dois líderes do Partido Único.
| Haru Shimazaki, Ventrue, 10ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(13) 13, Vont (5) 5. Experiência: 0. |
| Dr. Samuel Fernandes, Malkaviano, 13ª Geração Sem Ferimentos (0/7), PS(10) 08, Vont (5) 5. Experiência: 0. |