Entro em minha casa mais confiante e satisfeito. Havia resolvido muitos problemas em uma noite: descoberto minha "preferência alimentar" (confirmado pela maldita que me transformou), feito aliados e descoberto pelo menos o gênero de minha algoz. Ora, esta noite foi a melhor nos últimos dias!
Zé Acácio | "Vou passar um tempinho com minha senhora agora, Capitão. Fique à vontade por aí, essa casa é sua também. Estamos em família aqui." |
Espero que o fantasma entenda que desejo um pouco de privacidade naquele momento. Não que possa fazer alguma coisa se o sujeito quiser espiar.
Subo até meu quarto ("antigo quarto", me corrijo) e encontro-a vendo TV.
Marília Acácio | – Zé? O que foi? |
Eu rio.
Zé Acácio | – Sério que está que vendo Drácula? Hahaha... |
Marília Acácio | – Ora... não é só você que está curioso. |
Eu tiro a camisa e arranco a calça fora, fico só de cueca.
Zé Acácio | – Eu estou curioso com outra coisa... |
Marília Acácio | – Hm... |
Eu me concentro, gastando um pouco do delicioso sangue que obtive da Rita. Minha pele se aquece mais e me sinto mais vivo. Vou pra cima dela bem devagar.
Zé Acácio | – Descobri umas coisas boas nas minhas investigações... |
Marília Acácio | – Como? Epa, Zé! |
Eu sorrio e roubo-lhe um beijo apaixonado. Marília está surpresa, mas não fica assim por muito tempo. Nos lançamos em rolo apaixonado sobre a cama tendo por trilha sonora o affair de Drácula com Mina Harker.
Mais de uma hora depois nos afastamos. Ela está exausta, mas eu não estou nem suado... de fato, sinto que poderia continuar até o amanhecer. Ok, reconheço que beber sangue ainda é melhor, mas isso... é gostoso, de certo modo. Suspeito que meu rol de prazeres diminuiu consideravelmente, já que não posso mais beber, jogar futebol com os amigos ou curtir um festival de música, mas pelo menos ainda posso me divertir assim.
Marília Acácio | – Zé? Isso... isso... |
Zé Acácio | – Eu sei, incrível, não é? |
Marília Acácio | – Mas... o bilhete. |
Zé Acácio | – Uma mentira. Ou aquela vaca deve ser frígida. |
Marília Acácio | – Vaca frígida? |
Pressiono os lábios. Não queria ter dito isso logo de começo, não sei se ela está ouvindo. Abraço minha esposa e sussurro em seu ouvido.
Zé Acácio | – Consegui ajuda espiritual. E descobri que nossa inimiga é uma mulher. Ainda não sei o que ela quer, mas agora temos alguma vantagem. Prefiro não entrar em detalhes para não por você em risco. Tenho que ajudar meus amigos espirituais um pouco, mas depois irei à Juiz de Fora – há uma comunidade de vampiros por lá que talvez possa nos apoiar de algum modo. Nesse meio tempo, temos que lidar com outros fatores. |
Agora retomo meu tom de voz normal. Posso estar um pouco paranoico, mas o que digo a seguir não é necessariamente segredo.
Zé Acácio | – Estou mais convencido de que o sangue que devo beber é dos que trabalham pra mim. Ildalino era meu funcionário. Vou arrumar alguns guarda-costas, gente de confiança, dura na queda e pronta para o que der e vier. Vou por alguns aqui na fazenda pra proteger vocês e o nosso pessoal. – Falando em proteção, você conseguiu ver sobre a construção do abrigo? Quero que fique embaixo da casa, assim não precisarei atravessar o quintal e será mais seguro também. Botar uma porta de aço daquelas de cofre, mas que abra só por dentro como um quarto do pânico. Podemos inclusive disfarçar a construção desse modo, "quartos do pânico" são moda entre os endinheirados. Todo mundo tem medo de ser roubado ou sequestrado hoje em dia. |