Belo Horizonte: Noite Eterna [ON]

O tempo para defesa termina e Silvano sobe ao palco novamente.

Silvano Gusmão

Muito bem, vocês devem deliberar agora e os que tiverem decidido seu veredito devem escolher uma destas três pedras.

Ele exibe três pequenas esferas perfeitas, que parecem ser bolinhas de gude, uma branca, uma cinzenta e uma preta.

Silvano Gusmão

Como de praxe, a branca representa absolvição, a cinzenta implica em exílio e a preta é a Morte Final. Escolham uma e coloquem neste jarro, que será lacrado. Amanhã, como alguns aqui já sabem, o Doutor Mabuse, um respeitado Arconte a serviço de Sua Excelência Juliette Parr, virá à Belo Horizonte para discutir alguns temas menores e nós aproveitaremos este momento para revelar o destino deste neófitos.

Os neófitos em questão são proibidos de deixar o palco, mas são autorizados a votar. O próprio Silvano dá o exemplo – ele pega as três bolinhas e cuidadosamente deixa uma delas cair no jarro, sendo impossível ver qual ele derrubou. Alguns logo sobem ao palco e depositam as bolinhas diante dos neófitos – uns escondem sua escolha, enquanto outras a ostentam. Túlio percebe que Amanda botou uma bola branca para eles, o que é bom. China também. Alguns vampiros parecem se abster de votar: James Lastwish mesmo é visto deixando o salão após conversar rapidamente com o Xerife, que sem demonstrar preocupações deposita uma bola negra. Professora Carina é vista andando entre o salão, falando com pessoas aqui e ali. Ela e Rosália são duas das últimas a votar e a Brujah faz um gesto curto com a cabeça para Cícero, que corresponde. É bem sutil.

A votação termina e o Dr. Luís Gomes Ferreira, Primógeno Tremere, o último a votar, lacra o vaso com a cera de uma vela vermelha.

Cap. Eduardo

Vocês estão liberados, mas não saiam da cidade. Ou vamos atrás de vocês.

Os Membros começam a deixar o Elísio. Antes que os três façam o mesmo um homem de terno aproxima-se e lhes informa que Silvano deseja lhes falar em particular no escritório.

A Casa Chica da Silva é um museu que fica no bairro de Lourdes, um dos mais tradicionais e exclusivos de BH, construído na fundação da cidade para abrigar a elite mineira, dentro do perímetro da Avenida do Contorno (chamada assim por originalmente cercar o plano original da cidade). Por isso mesmo o lugar funcionava em um casarão neocolonial da década de 30 que havia sido construído a mando da própria Chica da Silva quando esta viera de Diamantina para governar os Toreadores mineiros.

Sim, pois no passado os anciões da capital não reinavam somente sobre sua cidade, mas sua influência se espalhava por uma grande extensão estadual, chegando ao Triângulo Mineiro no oeste e ao norte, na divisa com a Bahia. Somente a Zona da Mata e o Sul de Minas, onde os Anarquistas estabeleciam sua base de poder (tendo Juiz de Fora como sua sede) e o leste mineiro, sob a influência de Magdala, escapavam ao seu controle. Isso era fruto da própria configuração da Família na cidade, composta por Membros egressos de diversas cidades mineiras que não abandonaram completamente suas bases de poder, mantendo-se presentes tanto em Belo Horizonte quanto em seu território de origem. Chica da Silva era um exemplo, atuando na capital enquanto controlava Diamantina com mãos de ferro através de crias e carniçais leais.

Mas aqueles tempos se foram. Chica estava, supostamente, em torpor. Dom Ademar, o Cruzado Brujah, reinava em Magdala. O Conde de Valadares havia partido para lutar no Oriente Médio atendendo a uma convocação que ele mesmo não entendia bem. Um por um eles se retiraram e agora Belo Horizonte era governada por ancilla e neófitos que mal controlavam os próprios domínios, dividindo-os com os Anarquistas, e o interior estava finalmente livre para tomar seus próprios rumos.

Rosália Viscontti era a herdeira de Chica, sua prole e, tecnicamente, devia manter as coisas de sua Senhora "em ordem" até seu retorno. Era dito que ela cumpria seu papel muito bem.

Quando Nero e Túlio chegam ao lugar são recebidos por seguranças bem preparados e armados. Todos grandes, todos fortes, todos negros. Belíssimos, como era de esperar de quem servia a um Toreador. Um deles se adianta e informa que Rosália já os esperava e desejava falar com eles, guiando-os ao interior do museu.

A mulher está parada diante de um quadro que retrata as ruas de uma cidade antiga, provavelmente mineira. De costas para os recém-chegados, observa-o fascinada. Ao seu lado um galgo afegão também parece estar avaliando o quadro com muita atenção. Em todos os cômodos há pelo menos uma câmera, tornando muito difícil alguém invadir.

Rosália Visconti

Simplesmente fantástico, não acham? Todo o pensamento de uma época, uma cultura inteira cristalizada em uma única imagem. Podemos quase sentir como Alberto Delfino via o mundo ao seu redor.

Então ela se vira para os dois.

Rosália Visconti

Da mesma forma também consigo ver qualquer coisa muito errada nesta história. No início acreditei que vocês mataram nosso Príncipe a serviço de Silvano, aquele arrogante maldito. Depois de ouvi-los, contudo, não penso mais assim. Não parece estúpidos o bastante para isso, trabalhar para alguém que os jogou às chamas. Não gostariam de me contar o que sabem? E quero a verdade desta vez, não aquele teatrinho infantil que mostraram antes da votação. Colaborem comigo e talvez eu consiga salvar suas peles. O que acham?

Maior edifício de Belo Horizonte, inaugurado em 1.943 com cento e vinte metros de altura e trinta andares, o Acaiaca recebeu seu nome de uma palavra indígena que significaria Cedro. A referência aos índios de Diamantina que teriam inspirado o prédio estão nas enormes efígies que pontuam os cantos do prédio e o tornam bastante emblemático.

Ocupando as esquinas da Av. Afonso Pena no encontro desta com as ruas Espírito Santo e Tamoios, o edifício erguia-se imponente e não era à toa que Mendonça Jr. apreciava usá-lo, efetivamente ocupando um andar inteiro no topo do prédio. O prédio também era uma demonstração do poder (e, para os detratores, da empáfia) dos Ventrue.

Acessar o lugar era outros quinhentos. Cícero tentou usar o nome de Silvano Galvão, mas a recepcionista não deu por menos – ou o ancilla usava um nome público diferente ou não havia dado a permissão para que eles entrassem no escritório de seu falecido Senhor.

Cícero

Então… o que faremos?

A segurança era pesada por ali, tornando difícil – se não impossível – o uso de força bruta. Aquelas pessoas eram todas mortais comuns e, se houvesse confusão, fariam o que mortais comuns fazem: chamariam a polícia.

Cícero vai a um banheiro ali no térreo e retorna em seguida mudado. Agora veste terno e tem um rosto diferente, porém familiar – Mendonça Jr.

Após conversar rapidamente com a recepcionista, ele consegue acesso ao 24º andar – onde ficava o escritório do falecido Príncipe. Mendonça Jr. ainda usava o mesmo sobrenome, mudando somente o primeiro nome para disfarçar sua verdadeira natureza. O 25º andar era um restaurante que também lhe pertencia, mas estava fechado àquela hora.

O elevador chegou ao andar em questão em exatos 19 segundos e eles puderam sair. A porta principal estava fechada, mas era possível ver que havia sido arrombada.

A nova noite se inicia e os vampiros precisam encontrar o Arconte que decidirá seus destinos. O encontro não seria no Elísio, ao invés disso seria em um casarão na Guaicurus.

Isso era um tanto surpreendente – e indignante para alguns. O casarão era antigo e estava abandonado há anos. Segundo se dizia, havia sido erguido para servir como bordel, mas deixou de funcionar décadas atrás. Agora deteriorava-se a olhos vistos.

Cícero

Parece que Tremeres podem ser tão excêntricos quanto Malkavianos, não é mesmo? Esse lugar deve ser mal-assombrado, isso sim.

O número de carros de luxo estacionados à rua chamava a atenção, mas os mortais que por ali passavam não pareciam notar nada de irregular. Policiais militares e guardas municipais faziam patrulhas, afugentando a clientela regular dos hotéis da região e fazendo algumas prostitutas irem embora mais cedo e até mesmo alguns botecos fechavam as portas.

São recebidos por homens de terno negro à porta, que fazem vistoria por armas e checam identidades. Quando entram, entretanto, tudo muda. De repente estão em um amplo salão requintado em decoração gótica. Quadros com belas pinturas estão nas paredes, assim como vários retratos de diversas pessoas.


Um homem de olhar intenso aproxima-se. Ele sorri – revelando um par de presas pontiagudas que não podem ser retraídas – e cumprimenta-os.

Dr. Mabuse

Sejam bem-vindos à minha humilde morada. Sou o Dr. Mabuse da Casa Tremere, Arconte de Sua Excelência, a Sra. Juliette Parr, Justicar para os Filhos de Malkav. Entendo que são os réus do caso do Príncipe falecido. Sim, sim, um caso trágico. Mas, independentemente da forma como esta noite termine, saibam que são meus convidados e serão tratados de acordo até a hora derradeira.

Já há várias pessoas na reunião, formando grupos e circulando.