A meia-noite chega. Nesse momento um homem desce as escadarias que levavam ao segundo andar. Todos o reconhecem: Silvano Gusmão, Primógeno dos Ventrue, prole e braço direito de Mendonça Jr. Calmamente ele sobe ao palco onde uma banda até então tocava para o público, mas os músicos estão parados agora.
Eles de fato não se movem. Mal parecem respirar.
Enquanto Silvano toma a palavra, uma cortina atrás do palco se abre, revelando um telão.
Silvano Gusmão
| Boa noite. Sei que todos aqui se pergunta sobre esta convocação extraordinária. Antes de esclarecer tudo peço que observem as cenas que serão exibidas no telão. Foram gravadas ontem. Os envolvidos acreditaram que após causar uma pane geral no fornecimento de energia no Acaiaca estariam em segurança, mas o sistema de vigilância possui geradores próprios. |
Tendo dito isto, a um gesto de cabeça as luzes diminuem. Ele então manuseia um controle remoto para por a cena em ação. E lá está. A imagem mostra o escritório de Mendonça Jr. – o próprio está sentado em sua mesa. Então a porta se abre repentinamente e um trio entra de supetão. Sem hesitar eles descarregam automáticas sobre o Ventrue, que toma alguns tiros e chega a jogar a mesa sobre seus atacantes, sem atingi-los. Acertado na cabeça, cai. Então é estacado e decapitado, sua cabeça sendo erguida em uma posição central no vídeo, já entrando em estado de putrefação. Os atacantes largam tudo e fogem.
A qualidade da imagem era horrível, mas o rosto dos agressores era perceptível. Enquanto a luz retorna
Túlio,
Nero e
Cícero observam os Membros presentes se afastarem e os olharem chocados.
Pois eles eram os assassinos no vídeo.
Amanda
| Túlio, o que você fez? |
Ao lado dela uma enorme gárgula aparece – ela não estava ali um instante atrás! A Feiticeira se esconde atrás das asas de seu guardião, o mesmo fazendo outros Tremere.
Nero vê uma sombra cobri-lo e vê que o Xerife já está atrás dele, um sabre de cavalaria em sua mão direita. Até China se afasta lentamente, olhando para Cícero que acena com a cabeça sutilmente, compreensivo.
Silvano Gusmão
| Não parece existir qualquer dúvida. Nossos colegas ali – ele aponta para os três [i]– foram responsáveis pela destruição de nosso líder. De acordo com as Tradições, em circunstâncias normais, eles sofreriam do mesmo destino. |
Rosália Visconti
| Você não pode falar sério. |
Uma voz se levanta entre os convidados. Rosália Visconti, Primógena dos Toreador, avança resoluta abrindo caminho entre a multidão.
Rosália Visconti
| Está dizendo que estes neófitos foram capazes de destruir nosso Príncipe? Acha que somos idiotas? |
Professora Carina
| Não creio que o Padre Nero tenha feito isso! Nem Cícero! O que eles ganhariam? Isto me parece um plano para nos enfraquecer! |
De canto de olho, Nero vê que Cícero sorria com o canto da boca. Por um instante Silvano fecha a cara com irritação, mas se recompõe e responde com bastante calma.
Silvano Gusmão
| Não, minhas caras. Mas seria bobagem descartar que estejam a serviço de alguém. Provavelmente um mentor ou protetor que aspira ao principado. Notei que seu amigo, Ângelo, não compareceu a esta reunião, professora. |
Professora Carina
| Ele está em uma tarefa para mim! |
Silvano dá de ombros e faz um gesto de apaziguamento com as mãos abertas.
Silvano Gusmão
| Não importa, as imagens falam por si só. E, como eu dizia, em situações normais eles seriam punidos. Mas não serão. Estamos passando por um momento delicado e tenso. A administração desta cidade nas mãos de Mendonça Jr. estava desgastada e nos enfraquecendo. Além de suas decisões erradas surgiu algo pior. Bem pior. |
Ele se detém um momento. Parece pesaroso.
Silvano Gusmão
| Mendonça Jr. era meu Senhor. Foi um mentor e um amigo. Mas temos provas de que ele planejava nos trair. Ele sabia da fraqueza de sua posição e estava em negociações com o Sabá do Rio de Janeiro! |
A algazarra toma conta da audiência enquanto os Membros discutem, entre a surpresa e a dúvida. Silvano espera um momento antes de continuar.
Silvano Gusmão
| Com base nestas provas o conselho da Primigênie decidiu pela destituição de Mendonça Jr. e decretou sua Morte Final. Contudo o que não sabíamos é que no momento em que declaravámos o veredito alguém já tinha cumprido a tarefa, de modo que podem imaginar nossa surpresa.
Agora as opiniões entre meus pares se dividem. Alguns acreditam que eles fizeram um favor à nós, enquanto outros acham que são traidores e devem ser punidos. Uma vez que um consenso não foi alcançado decidimos convocar a Assembleia. Esta Assembleia. Vocês decidirão o destino dos neófitos! |
Nos tempos anteriores à Cruzada da Geena, quando vampiros antigos ocupavam o poder em BH e ninguém conseguia reclamar o posto de Príncipe, a Família havia se organizado em torno do conselho da Primigênie, que por sugestão de Dom Ademar, o então Primógeno Brujah, se organizou como o Senado da República de Belo Horizonte. Embora tivesse grande poder, quando não conseguia decidir por conta própria era usual que aquela instituição convocasse todos os Membros da cidade para votar em plebiscito, normalmente para responder "sim" ou "não" a uma proposta. Era a Assembleia. Com a partida dos mais velhos o equilíbrio de poder foi alterado o suficiente para permitir a Mendonça Jr. obter o cargo e a Assembleia foi descartada, pois o Príncipe detinha o voto de minerva nas questões.
Professora Carina
| E agora, com a cadeira vaga, parece adequado retomar a antiga tradição republicana. |
Silvano Gusmão
| Agora os neófitos possuem dez minutos para apresentar sua defesa perante à audiência. Venham. |
Atrás de Nero, o Xerife faz um gesto com a cabeça para este e Cícero, como se dissesse "vão lá". Dois de seus assistentes se aproximam de Túlio e um deles faz um gesto de "convite" com a mão estendida, indicando a ele a direção do palco.