por Lipe Qui 25 Ago 2022 - 16:16
Abro um sorriso com a resposta do nativo, prendo o cigarro entre os dedo e toco uma canção Cherokee e em seguida continuo a poesia:
"Eu caminho para dentro e para fora de muitos mundos.
Em minha mente, há muitas moradas.
Cada uma destas criamos nós mesmos: a morada da raiva, a morada do desespero, morada da autopiedade, morada da indiferença, morada do negativo, morada do positivo, morada da esperança, morada da alegria, morada da paz, morada do entusiasmo, morada da cooperação, morada da doação.
Cada uma dessas moradas visitamos todos os dias.
Podemos permanecer em cada uma delas o tempo que quisermos.
Podemos abandonar cada uma dessas moradas mentais no momento que desejarmos.
Nós criamos a casa, nós ficamos na casa, nós saímos da casa quando bem quisermos.
Podemos criar novos aposentos, novas casas.
Quando entramos nestas moradas elas tornam-se nosso mundo até que a deixemos por outra.
Grande Espírito, ninguém pode determinar a morada que devo escolher entrar.
Ninguém tem o poder para isso, a não ser eu mesmo.
Permita-me que hoje eu escolha sabiamente."
Trago o cigarro, toco mais uma música Cherokee, e conto uma história minha:
"Uma noite, enquanto eu ouvia as história do cacique da tribo que eu conheci, ouvi um uivo, e todos ficaram em silêncio. Eu me preocupei, mas logo vi na escuridão, que um filhote de lobo mancava na nossa direção. Era um desgarrado, que deve ter se perdido na mãe, ou que escapou de morrer nas mãos de alguma fera maior. E logo os Cherokee se aproximaram, e deram carne para o filhote, uma curandeira se aproximou, e benzeu o filhote, enquanto um homem trazia uma tala para imobilizar a pata do pequeno animal. Ele ficou dias na tribo, até que um dia, enquanto a curandeira colhia ervas sozinha na floresta, uma alcateia a cercou, e se preparavam para ataca-la. Mas ela se aproximou do que parecia ser o maior deles, o líder, e tirou um punhado de pelos do pequeno lobo, e aproximou do focinho do grande lobo, mesmo que ele rosnasse e mostrasse as presas para ela. Ela fez sem medo, mas com respeito. E então, eles cederam, se acalmaram. Ela então caminhou calmamente até o assentamento, com a alcateia de lobos atrás dela, como se ela fosse a líder. E o lobinho veio ao encontro deles, e se foi com eles. Desse dia em diante, todos os anos, esses mesmos lobos voltavam, e ficavam uma noite dormindo ao relento, próximo da tribo, mas o pequeno lobo, que ficava cada vez maior, entrava no acampamento, e dormia no mesmo lugar que ficou se recuperando com a tala na pata. Anos depois, era esse lobo quem liderava a alcateia, e ele nunca deixou de visitar aqueles que um dia lhe deram abrigo."
Depois dessa história, contei mais uma, e terminei de fumar meu cigarro.
"E você guardião Shila, o que tem visto nas tuas viagens?"